Jovem cria delivery de saladas feitas por moradores de favela

O carioca Hamilton Henrique, 26, estudava engenharia e trabalhava em um espaço de coworking quando teve contato com a alimentação saudável pela primeira vez. “Eu morava em São Gonçalo (RJ) e não vinha de classe alta. Não entendia porque meus colegas com mais dinheiro preferiam lasanha de berinjela a um bom pedaço de picanha. Na minha cabeça, rico gostava de comer coisas gostosas”, conta.

Ele aprendeu a comer mais frutas, verduras e legumes na época e notou que a mudança foi positiva para a vida dele. “Até que um dia senti uma vontade incontrolável de comer empadão de legumes e meus amigos tiraram sarro de mim. Então nasceu a ideia de levar acesso a uma alimentação mais saudável a um preço justo”, explica.

Uma das saladas e molho feitos na cozinha Saladorama
Uma das saladas e molho feitos na cozinha Saladorama

O empreendedor conheceu a nutricionista Mariana Fernandes, com quem dividia o desejo de democratizar o acesso a alimentos saudáveis, quando ficaram sabendo que estava aberto o processo seletivo para incubação e aceleração da Yunus  Negócios Sociais Brasil. Eles se inscreveram, foram selecionados em outubro de 2014 e receberam assessoria para criar o modelo de negócio. Em fevereiro de 2015, nascia o Saladorama, com investimento inicial de R$ 250.

A empresa oferece o serviço de delivery de saladas e sucos orgânicos, e trabalha com vendas avulsas ou planos de assinaturas. Os pedidos podem ser feitos pelo site, Facebook ou WhatsApp, e todas as entregas são realizadas de bicicleta. Além de incentivar a ingestão de frutas e verduras, o negócio pode tornar-se uma fonte de renda.

Hamilton emprega moradores de comunidades carentes do Rio, a maioria mulheres, que passam por um processo de capacitação de quatro meses, que ensina desde os cuidados com os alimentos até noções de gerenciamento do negócio, para que sejam capazes de empreender também. Todos os alimentos são preparados em cozinhas próprias nas comunidades.

Os sócios Mariana e Hamilton (à direita) com Muhammad Yunus (centro), Nobel da Paz e mentor da aceleradora de negócios sociais pela qual passaram
Os sócios Mariana e Hamilton (à direita) com Muhammad Yunus (centro), Nobel da Paz e mentor da aceleradora de negócios sociais pela qual passaram

A operação começou em São Gonçalo, onde o empreendedor mora, e depois se estabeleceu no morro de Santa Marta, na zona sul do Rio, o que possibilitou atender pessoas de todas as classes sociais. Hoje eles atuam no Rio de Janeiro e em Pernambuco. São quatro cozinhas ao todo e duas lojas em construção, uma no Rio e outra em Recife.

Quase um ano depois, o Saladorama conta com 20 profissionais, além de Hamilton, Mariana e Isabela Ribeiro, designer que também se tornou sócia, e cerca de 43 mil pessoas foram impactadas. A meta para os próximos 12 meses não é financeira, é humana: impactar cerca de mil crianças, capacitar mais 600 mulheres e terminar o ano com 10 franquias. Hamilton conta que há planos de expansão para Curitiba e São Paulo, e que já recebeu convites pra replicar o modelo nos Estados Unidos e no México.

“Em 2016 vamos priorizar a criação de franquias, pois já recebemos mais de 50 propostas de quem quer ter seu próprio negócio social e observamos que ainda não existe nenhum focado em alimentação saudável. Já fechamos parceria com um escritório de arquitetura e definimos o modelo de lojas containers”, revela o idealizador.

A embalagem da salada é personalizada com o nome do cliente
A embalagem da salada é personalizada com o nome do cliente

Negócio social

O Saladorama é um negócio de impacto social, ou seja, colabora com o desenvolvimento econômico e social da região em que atua ao mesmo tempo em que gera lucro para ser reinvestido na própria operação. “Eu acredito que eles são a evolução dos negócios no mundo, pois os que permanecem são os que resolvem um problema social de alguma forma”, reflete. “Nos próximos anos vamos ver muitos negócios sociais se tornando protagonistas da transformação de suas cidades”, completa Hamiton.

Para quem deseja ter seu próprio negócio, ele diz que é importante acreditar no projeto e lembrar sempre que não é o empreendimento, e sim, o empreendedor. “Já tive ideias legais que poderiam ter dado algum resultado, mas não época não acreditava em mim. Quando percebi que podia e era possível, foi quando tudo começou a voar. Perdi o medo de errar e foi errando e consertando que tudo caminhou bem rápido”, conclui.